quarta-feira, 25 de junho de 2014

Li e Gostei: A Desobediência Civil

Recentemente, tive uma conversa com meu professor de Filosofia. Conversávamos sobre Filosofia Política, que é a matéria que está sendo estudada pela minha turma. Tivemos um longo debate sobre a política em nível individual, nacional e mundial.
Moral da história. Ele me indicou diversos livros que revolucionaram a filosofia política e que, segundo ele, mudaram sua vida. Um destes livros foi “A Desobediência Civil” de Henry Thoreau. Logo que cheguei em casa baixei o e-book, e li compulsivamente até que as páginas acabassem. Em pouco menos de três horas eu tinha terminado de lê-lo.
O livro começa falando do Estado e como ele utiliza dos fatos sociais para nos reprimir. Mas diferentemente de outros autores, ele mostra que você pode fugir desses fatos sociais. Ao se refugiar da cidade, vivendo isolado, você fica livre de toda a repressão.
Thoreau dá como exemplo, a sua situação: ele viveu no período da guerra estadunidense contra o México, quando o movimento abolicionista era muito forte. Ele mostra que se um indivíduo é contra algo, ele deve se opor a sustentá-lo de todas as formas. Thoreau narra que foi preso por não pagar impostos que seriam destinados à guerra e à escravidão.
E o auge do livro, pra mim, é quando Thoreau narra sua estadia na prisão e sobre seu companheiro de cela. Ele conta sobre seus pensamentos de como o mundo ao seu redor é que realmente estava preso. E como o Estado é lastimável, tentando mudar as pessoas, mas o único lugar onde ninguém terá controle é a mente.

"O que preciso fazer é cuidar para que de modo algum eu participe das misérias que condeno" (Henry Thoreau)


Essa frase na minha opinião resume o livro, e é a grande máxima do livro. Se você não concorda com o mundo ao seu redor, levante-se e mude. Afinal, viver é como assistir televisão, se você não levantar e pegar o controle será sempre obrigado a assistir o que não quer. Coloque sua vida no modo imperativo: levante, faça, mude, conserte.

sábado, 24 de maio de 2014

Análise de Todo Carnaval Tem Seu Fim.

Tentarei aqui fazer uma análise semiótica da canção Todo Carnaval Tem Seu Fim do grupo Los Hermanos. Vale ressaltar que essa é a minha visão, baseada apenas na minha concepção e em algumas outras interpretações que eu vi. Não representa necessariamente a verdade e/ou a intenção do Marcelo Camelo ao compor esta canção.
  
Será de suma importância que o leitor tenha um pouco de entendimento sobre Niilismo, Sonambulismo Social e Inconformismo Social. Logo na introdução é possível perceber o final de uma marcha de carnaval, e depois começa a música em si, com bateria, guitarra, baixo e etc. Afirmando a impressão de um ciclo, termina uma música e começa outra.

Todo dia um ninguém José acorda já deitado
O eu-lírico faz referência a um Zé Ninguém (Ninguém José ao contrário), ou seja, uma pessoa qualquer. O Zé é um personagem que representa toda a humanidade. Todos acordamos deitados, afinal você dorme deitado e acordará também assim. Ou seja, o eu-lírico faz um paralelo entre uma pessoa qualquer e um fato corriqueiro.

Todo dia ainda de pé o Zé dorme acordado
Nesse verso o eu-lírico sugere um paradoxo (dormir acordado), é biologicamente impossível dormir acordado. A menos que não se esteja plenamente vivendo, como num estado de sonambulismo, fazendo as coisas instintivamente, sem pensar, como num sonambulismo social. Geralmente o sonambulismo social é gerado por hábitos repetitivos como trabalho, estudos, rotina e etc.

Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
A palavra principal desse verso é dia, que é repetida três vezes. O eu-lírico para de narrar sobre o Zé e começa a falar do Dia, encare o Dia (com letra maiúscula) como um ser vivo e pensante, mas o Dia tem uma visão superior a do Zé, como se o Dia tivesse uma consciência mais evoluída. Sugere-se nesse verso que o Dia esteja num estado de inconformismo social, ou seja, o oposto de sonambulismo social, quando se tenta fugir dos hábitos repetitivos que geram o sonambulismo, fazendo o sol não querer raiar o sol do Dia.

Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que O dia insiste em nascer
A trilha seria nesse caso é a vida e andar seria viver. Nunca temos certeza de que o sol nascerá no próximo dia, é sempre necessário a fé para crer que ele nascerá na próxima manhã. É importante ressaltar que os ditados não representam necessariamente a verdade. E o ditado citado tem a visão do Zé, que está em sonambulismo e acha que o dia quer nascer.


Mas o dia insiste em nascer pra ver deitar o novo
Esse verso marca a visão o Dia, contrastando a visão do Zé. Porque o Dia insiste em nascer pra ver deitar o novo, ou seja, para que o ciclo continue acontecendo. Diferentemente do que o Zé pensa, o Dia não quer nascer, ele simplesmente precisa porque a vida é um ciclo e não pode ser quebrado.

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
O Dia começa a demonstrar esse ciclo para afirmar sua posição perante os fatos. A partir daqui começa um diálogo do Dia com o Zé, cada um defendendo sua visão.

Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Esse verso pode ser encarado com a pergunta do Dia ao Zé: Se tudo é um ciclo por que você está vindo me questionar sobre isso agora? Como se o Dia estivesse argumentando com o Zé sobre tantas outras coisas que poderiam ser questionadas, mas não são. É importante salientar que o Zé está em Sonambulismo e o Dia está em Inconformismo


Todo o carnaval tem seu fim, Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim
Carnaval representa a melhor noção de felicidade para o eu-lírico, que é descrente quanto a possibilidade de ser feliz. Mesmo o carnaval sendo uma festa de extrema alegria, dura apenas uma semana. A palavra fim se repete quatro vezes, enfatizando a visão do eu-lírico de que a felicidade necessariamente terá fim.


Deixa eu brincar de ser feliz
Essa é uma fala do Zé para o Dia, como se pedindo para tentar ser feliz mesmo que essa alegria seja passageira. O Zé tem a consciência que assim como as pessoas brincam o carnaval, também brincam de ser feliz.

Deixa eu pintar o meu nariz
O eu-lírico faz um paralelismo do palhaço com quem busca a felicidade, sendo inclusive engraçado para ele essa busca vã. Mas o Zé mesmo tendo consciência disso insiste em buscar a felicidade.

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Essa é a fala do Zé dizendo que ele poderia tocar o tarol em uma banda, mas por algum motivo ele não toca, mas tal fato seria possível. Esse verso será importante para entender os próximos.

Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
O Dia tenta provar que a felicidade não pode ser alcançada, mas é uma dádiva de Algo Superior (por exemplo, uma divindade), e o Zé seria um mero ouvinte. A felicidade seria um refrão que pode até se repetir, mas sempre acaba. E não é o ouvinte que escolhe quando será o refrão, mas quem está tocando faz tal decisão.

Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Esse verso é uma resposta do Zé para o Dia. Segundo o primeiro verso, o Zé é quem acorda já deitado. Seria como se o Zé estivesse dizendo: “Eu faço as decisões na minha vida. Não será uma banda que escolherá quando será o refrão, mas eu. ” Se o Zé tocasse o tarol, ele poderia escolher quando seria o refrão.

Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
O Dia responde que mesmo se ele tocasse tarol em uma banda porque toda folha elege um alguém que mora logo ao lado. Sabe aquela história de que o gramado do vizinho é sempre mais verde? Sempre parecerá que quem mora logo ao lado, terá controle da felicidade, mas o Zé não


E pinta o estandarte de azul, e põe suas estrelas no azul. Pra que mudar?

Esse é o verso que representa toda a música, na minha opinião. O Dia argumenta: “Se tudo sempre foi assim, pra que mudar?