Tentarei aqui fazer
uma análise semiótica da canção Todo Carnaval Tem Seu Fim do grupo Los
Hermanos. Vale ressaltar que essa é a minha
visão, baseada apenas na minha concepção
e em algumas outras interpretações que eu vi. Não representa necessariamente a
verdade e/ou a intenção do Marcelo Camelo ao compor esta canção.
Será de suma
importância que o leitor tenha um pouco de entendimento sobre Niilismo,
Sonambulismo Social e Inconformismo Social. Logo na introdução é possível
perceber o final de uma marcha de carnaval, e depois começa a música em si, com
bateria, guitarra, baixo e etc. Afirmando a impressão de um ciclo, termina uma
música e começa outra.
Todo dia um ninguém José acorda já deitado
O eu-lírico faz
referência a um Zé Ninguém (Ninguém José ao contrário), ou seja, uma pessoa
qualquer. O Zé é um personagem que representa toda a humanidade. Todos
acordamos deitados, afinal você dorme deitado e acordará também assim. Ou seja,
o eu-lírico faz um paralelo entre uma pessoa qualquer e um fato corriqueiro.
Todo dia ainda de pé o Zé dorme acordado
Nesse verso o eu-lírico
sugere um paradoxo (dormir acordado), é biologicamente impossível dormir acordado.
A menos que não se esteja plenamente vivendo, como num estado de sonambulismo,
fazendo as coisas instintivamente, sem pensar, como num sonambulismo social.
Geralmente o sonambulismo social é gerado por hábitos repetitivos como
trabalho, estudos, rotina e etc.
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
A palavra principal
desse verso é dia, que é repetida
três vezes. O eu-lírico para de narrar sobre o Zé e começa a falar do Dia, encare
o Dia (com letra maiúscula) como um ser vivo e pensante, mas o Dia tem uma
visão superior a do Zé, como se o Dia tivesse uma consciência mais evoluída.
Sugere-se nesse verso que o Dia esteja num estado de inconformismo social,
ou seja, o oposto de sonambulismo social, quando se tenta fugir dos hábitos
repetitivos que geram o sonambulismo, fazendo o sol não querer raiar o sol do Dia.
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que O dia
insiste em nascer
A trilha seria nesse
caso é a vida e andar seria viver. Nunca temos certeza de que o sol nascerá no
próximo dia, é sempre necessário a fé para crer que ele nascerá na próxima
manhã. É importante ressaltar que os ditados não representam necessariamente a
verdade. E o ditado citado tem a visão do Zé, que está em sonambulismo e acha
que o dia quer nascer.
Mas o dia insiste em nascer pra ver deitar o novo
Esse verso marca a
visão o Dia, contrastando a visão do Zé. Porque o Dia insiste em nascer pra ver
deitar o novo, ou seja, para que o ciclo continue acontecendo. Diferentemente
do que o Zé pensa, o Dia não quer nascer, ele simplesmente precisa porque a vida é um ciclo e não pode ser quebrado.
Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
O Dia começa a
demonstrar esse ciclo para afirmar sua posição perante os fatos. A partir daqui
começa um diálogo do Dia com o Zé, cada um defendendo sua visão.
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Esse verso pode ser
encarado com a pergunta do Dia ao Zé: Se tudo é um ciclo por que você está
vindo me questionar sobre isso agora? Como se o Dia estivesse argumentando com
o Zé sobre tantas outras coisas que poderiam ser questionadas, mas não são. É
importante salientar que o Zé está em Sonambulismo e o Dia está em Inconformismo
Todo o carnaval tem seu fim, Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim
Carnaval representa a
melhor noção de felicidade para o eu-lírico, que é descrente quanto a
possibilidade de ser feliz. Mesmo o carnaval sendo uma festa de extrema
alegria, dura apenas uma semana. A palavra fim
se repete quatro vezes, enfatizando a visão do eu-lírico de que a felicidade necessariamente
terá fim.
Deixa eu brincar de
ser feliz
Essa
é uma fala do Zé para o Dia, como se pedindo para tentar ser feliz mesmo que
essa alegria seja passageira. O Zé tem a consciência que assim como as pessoas
brincam o carnaval, também brincam de ser feliz.
Deixa eu pintar o meu
nariz
O
eu-lírico faz um paralelismo do palhaço com quem busca a felicidade, sendo
inclusive engraçado para ele essa busca vã. Mas o Zé mesmo tendo consciência
disso insiste em buscar a felicidade.
Toda banda tem um
tarol, quem sabe eu não toco
Essa
é a fala do Zé dizendo que ele poderia tocar o tarol em uma banda, mas por
algum motivo ele não toca, mas tal fato seria possível. Esse verso será
importante para entender os próximos.
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
O
Dia tenta provar que a felicidade não pode ser alcançada, mas é uma dádiva de
Algo Superior (por exemplo, uma divindade), e o Zé seria um mero ouvinte. A
felicidade seria um refrão que pode até se repetir, mas sempre acaba. E não é o
ouvinte que escolhe quando será o refrão, mas quem está tocando faz tal
decisão.
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Esse
verso é uma resposta do Zé para o Dia. Segundo o primeiro verso, o Zé é quem
acorda já deitado. Seria como se o Zé estivesse dizendo: “Eu faço as decisões
na minha vida. Não será uma banda que escolherá quando será o refrão, mas eu. ”
Se o Zé tocasse o tarol, ele poderia escolher quando seria o refrão.
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
O
Dia responde que mesmo se ele tocasse tarol em uma banda porque toda folha elege
um alguém que mora logo ao lado. Sabe aquela história de que o gramado do
vizinho é sempre mais verde? Sempre parecerá que quem mora logo ao lado, terá
controle da felicidade, mas o Zé não
E pinta o estandarte
de azul, e põe suas estrelas no azul. Pra que mudar?
Esse
é o verso que representa toda a música, na minha opinião. O Dia argumenta: “Se
tudo sempre foi assim, pra que mudar?
analise incrível, acho que faz uma critica social muito boa ao Brasil por conta que hoje vivemos uma fase difícil,tanto politica como econômica, e o carnaval esta apagado, o povo comemora o carnaval como uma forma de esquecer seus problemas e serem felizes, porém a felicidade é passageira "todo carnaval tem seu fim".
ResponderExcluirTopíssimo
ResponderExcluirExcelente análise. Parabéns
ResponderExcluirExtraordinariamente magnífico
ResponderExcluirChave
ResponderExcluirMuito boa a análise.
ResponderExcluirExcelente análise em vários trechos. Mas acho que se trata de uma crítica politico-social. O Zé representa o povo que sonha acordado com a felicidade e "escolhe" aqueles que o governam. Mas toda folha elege um alguém que mora logo ao lado, ou seja, são sempre os mesmos políticos ou os que são próximos a eles como filhos, parentes, amigos, etc... Mesmo assim o Zé continua dormindo acordado pintando o estandarte de azul, afinal "pra que mudar?" E ele segue pedindo: "Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz" — retrato do povo que é feito de palhaço pelos corruptos mas segue a vida como se estivesse tudo bem ou como se nada mais pudesse ser mudado. Acho que é isso. Mas gostei da sua análise também. Abraço!
ResponderExcluirConcordo com essa sua análise, e por folha eu entendo que é a imprensa aqui representando o sistema que deve ser mantido, afinal pra que mudar de estão no topo? Enquanto o Zé faz suas decisões diárias, brincando de ser feliz. 0
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